Como já repararam ando desaparecida...
Desta vez não tenho nenhum motivo"maior", simplesmente ando desapontada.
Não especificamente com este blog, muito menos com vocês, mas com as pessoas em geral.
Desculpem o desabafo. Eu sou optimista, com a "mania" de ver sempre o melhor em tudo e todos, como me costumam dizer, mas neste momento o meu positivismo está desmoralizado...
Sinto-me frustada, a pensar "mas para que é que ando para aqui a bater no ceguinho???"
Eu sei que não faço nada de especial, à escala maior. Sou só um pequeno ser a esforçar-se por reduzir o seu impacto no planeta. E não o digo para me darem palmadinhas nas costas e me dizerem "olha que não, és o máximo"..., a sério que não, mas porque acredito que se todos nós fizermos pequenas coisas positivas, juntos alcançamos grandes resultados.
Mas depois olho à minha volta e, tirando algumas excepções - nas quais vos incluo porque se não, não estariam por aqui - ninguém quer saber. Ninguém quer saber. Anda toda a gente "ocupada com a sua vida" (...), andam todos demasiados ocupados para olhar para as árvores que desaparecem, para ver o mar que traz lixo em cada onda, para reparar no céu não tão azul. Andam todos demasiado ocupados a trabalhar, a educar as suas crianças (como já me disseram) para terem tempo para "essas coisas" (como também já me disseram...). Essas coisas? Cuidar do planeta onde vivemos, do planeta que é suposto deixar em bom estado às gerações vindouras...
Eu acredito que o planeta não precisa de nós para nada. Por muito mal que lhe façamos, ele vai sobreviver. Nós não, nós somos delicados e precisamos de determinadas condições para sobreviver por aqui. Portanto vamos dar cabo de tudo até ao ponto de nos extinguirmos como espécie. A Terra até poderá demorar algum tempo a recuperar, mas fá-lo-á, e viverá, provavelmente até o nosso sol "morrer"...
Portanto ando eu (andamos nós, uma meia-dúzia de "malucos") preocupada com a sobrevivência de uma espécie que não tem - pelo vistos - o mínimo instinto de preservação.
Então, digam-me vocês, para quê?...
Nesta altura do ano devia estar a enviar-vos mensagens positivas e cheias de esperança (e claro que desejo que o novo ano vos/nos traga felicidade e sonhos realizados) mas não consigo evitar como me sinto. Não se preocupem, não estou enrolada em posição fetal no escuro do quarto. Ando pelo mundo a viver a minha vida ao máximo, como sempre fiz, mas sinto que perdi alguma coisa algures. Sinto que perdi o sentido de missão, se é que tal faz sentido.
E deixo-vos com a grande Sophia, a quem volto sempre em busca de conforto e quem sabe, hoje, de força:
A Forma Justa
Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo
Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"