11 de julho de 2010

162 - Fazer um vermicompostor


Tal como "prometi" quando aprendi a fazer compostagem, já somos mais cá em casa. Além de nós e das nossas três gatas, temos agora uma família de minhocas ao nosso cuidado!

Quando participei na oficina de compostagem percebi que não a poderia fazer no nosso apartamento (o compostor tem que ficar pousado na terra) e como me ficaram a incomodar os 40% (nós, provavelmente mais) de resíduos orgânicos no lixo que cada um de nós produz por dia, mal surgiu a oportunidade fomos participar numa oficina sobre vermicompostagem, organizada pelo núcleo de Braga da Quercus.

A finalidade da oficina era ensinar a técnica da vermicompostagem, fornecer as minhocas aos participantes, mas também reaproveitar caixas de esferovite como vermicompostores. Como caixas de esferovite são incompatíveis com gatas, nós optamos por fazer o nosso compostor com caixas opacas de plástico. Sim eu sei que o plástico não é muito ecológico, e que também se podem fazer em madeira, mas não deve ser por acaso que todos os vermicompostores que tenho visto são em plástico!

O vermicompostor

Há imensos sites e blogs que nos ensinam a construir a moradia para as nossas minhocas. Nós, baseados também no que aprendemos na oficina, inspiramo-nos neste esquema de minhocasa (ninguém como os brasileiros para simplificar os nomes das coisas) e neste passo-a-passo, e edificamos, para já, o primeiro andar do nosso vermicompostor. Se correr bem, acrescentaremos os dois andares que completam o palácio (quem preferir pode ficar apenas pelo rés-do-chão, quem for mais ambicioso pode fazer ainda mais andares).



Assim comprámos uma caixa Slugis (do Ikea) com 54cm x 35cm e 16cm de altura. Porquê? Porque não acho nada bonitas as caixas semelhantes às que aparecem no esquema...

Se não for grande o suficiente, posso depois comprar uma mais alta, da mesma linha e esta primeira fica como tabuleiro de repouso de composto já pronto ou para recolher o excesso de líquido (chorume). Mas ATENÇÃO, não vale a pena comprar caixas muito altas, as minhocas só sobem até uns 20/25 cm de altura! Se for preciso mais espaço, joguem com a largura ou o comprimento.

Depois fazem-se buracos na tampa e na laterais da caixa (para arejamento) e no fundo (para escoamento de eventual excesso de humidade). Como a nossa caixa vai ficar na varanda não colocámos nada por baixo, para já, mas se a colocarem numa divisão interior convém pôr um tabuleiro por baixo para recolher o chorume. NÃO faça como eu (esperta...), que, para não ter ir buscar o berbequim (...) comecei a fazer os buracos como vi a formadora fazer nas caixas de esferovite (usando um ferrinho aquecido numa vela...): derreter plástico liberta vapores TÓXICOS!!! Os buracos devem ser pequenos para as minhocas não sairem da caixa. E acreditem que elas saem por "buraquinhos bem pequenininhos": já andei a salvar minhocas pelo chão da varanda (nalguns casos cheguei tarde demais...). Muitos não são demais - aprendi eu com a prática - porque a caixa deve ser bem arejada. Li algures que podemos colocar no fundo da caixa (e forrar as paredes também) com rede plástica bem apertada, de maneira a sairem líquidos mas não as minhocas. Parece-me uma óptima ideia, a experimentar na altura da remodelação da moradia... E pronto, a casinha está pronta!

As habitantes

As nossas minhocas dão pelo bonito nome de eisenia fetida, mas são mais conhecidas como minhocas vermelhas, e parece que são campeãs a processar uma grande variedade de materiais, daí serem as mais usadas na vermicompostagem.

Gostam de trabalhar entre os 15º e os 25º. Temperaturas mais baixas ou mais altas diminuem a sua produtividade e podem mesmo matá-las. Por isso, às vezes - dependendo da temperatura do sítio onde estão - pode ser necessário retirar a tampa, para refrescar (o calor é a situação mais comum por cá). Quando estão com calor saem da mistura e sobem para as paredes laterais e tampa. Se o PH não for do seu agrado (entre 5 a 9) também tentam fugir, daí não ser aconselhável colocar critinos na caixa. Gostam de humidade, lugares bem arejados e fogem da luz mais rápido do que um vampiro... Parecem umas bichinhas complicadas mas não são, a sério!

Iniciar o processo

- Fazemos primeiro a cama das bonecas - desculpem! - minhocas: cortamos tiras de jornal com cerca de 2cm de largura, evitando as folhas coloridas por causa dos químicos pesados. Se pegarmos em várias folhas de jornal e as rasgarmos no sentido do comprimento (rodando-as 180º em relação à posição normal de leitura...) a tarefa é rápida e simples. Amarrotamos várias tiras numa bola, humedecêmo-las com um borrifador - ou mergulhando-as rapidamente num recipiente com água (não devem ficar excessivamente molhadas) e forramos o fundo da caixa com as tiras humedecidas e de novo separadas;


- adicionamos um punhado de terra, para acrescentar microorganismos;

- juntamos as minhocas. Segundo o que aprendi na formação, por cada quilo de resíduos adicionado por semana, são necessários 300g de minhocas. Como é óbvio, não dá para andar a pesar as minhocas, por isso vamos estando atentos para ver se as minhocas vão dando "vazão" aos resíduos, ou se temos que não colocar tantos restos e esperar que a família cresça;


- colocamos os primeiros restos de comida (li algures que devemos aguardar 2 semanas antes de alimentar as minhocas, para elas se habituarem à casa nova. Eu não o fiz e deram-se bem);

- cobrimos tudo com mais tiras de jornal humedecidas (cama).


Manutenção

- Devemos ir revolvendo a mistura - com cuidado para não trucidar nenhuma minhoca - com um ancinho pequeno. Não precisa de ser todos os dias, o ideal é ir olhando e mexer quando acharmos necessário misturar restos menos degradados que estejam por cima e a mistela por baixo. Afastar a cama, revolver e no fim voltar a cobrir bem a mistura;

- se a mistura estiver seca, borrifar com água ou juntar cama humedecida e, se necessário, colocar a caixa num sítio mais húmido. Se estiver molhada, evitar juntar alimentos muito ricos em água, adicionar cama seca (as tiras de jornal sem as humedecer, folhas secas, palha, ...) e se for o caso, mudar a caixa para um local menos húmido;

- colocar alimento (parece que as minhocas sobrevivem 3 meses sem comer...), afastando a cama e voltando a tapar tudo no fim;

- e sempre que a cama desaparecer (por cima e/ou por baixo), fazer uma nova! É esta cama que previne o aparecimento de mosquitos. Se mesmo com a cama aparecerem mosquitos pode usar-se folhas de couve galega a cobrir a mistura, ou colocar uma pequena taça com vinagre junto à caixa;

- o que nos leva ao que NÃO devemos colocar no vermicompostor: citrinos (torna o composto muito ácido), restos de alimentos cozinhados, de origem animal e gorduras (atraem moscas e têm um cheiro desagradável), sementes (adoram o ambiente cheio de nutrientes e germinam - brancas porque não têm luz. Ao germinar começam a absorver nutrientes do vermicomposto).

Quando estiver pronto

Normalmente, ao fim de 2 meses já há composto pronto. Nota-se bem porque parece... terra! Como o retirar?

- Se já tiverem o arranha-céus com as três caixas, trocam a caixa do meio - onde estavam a fazer o 1º composto e trocam-na com a de cima (que passa a ser a do meio), e nesta voltam a fazer o "Iniciar o processo". Provavalmente as minhocas migram da caixa de cima para a do meio (através dos buracos), porque já não lhes damos alimento na outra... Façam-no ou não, ao fim de duas semanas, à luz do dia, retiramos o conteúdo da caixa de cima e espalhamo-lo numa superfície lisa (pode ser a tampa), deixando um monte num canto. Como não gostam da luz as minhocas vão fugir para o monte. Vamos retirando composto da zona onde está espalhado (já sem minhocas) e vamos espalhando mais, reduzindo o monte. Repetimos a operação até o monte ser (quase) só minhocas, que colocamos na caixa com a nova mistura. Se ao fazermos esta operação encontrarmos uma espécie de bagos de arroz, devolvemo-las à caixa, porque são ovos de minhocas! O composto pronto pode (e deve) ficar a repousar na caixa de cima porque as minhocas já não voltam para lá (estão todas contentes a comer na casa nova). Depois de alguns dias pode usar-se o composto para fertilizar.

- Se só houver uma caixa (como no nosso caso, para já), fazemos o mesmo processo, mas puxando todo o composto para metade da caixa e fazendo o "iniciar o processo" na outra metade. De resto é tudo igual!

Fertilizante: chorume (ou xorume) - chá de vermicomposto

O tal líquido que sai por debaixo da caixa é o chorume (ou xorume), o "resultado do processo de putrefação (apodrecimento) de matérias orgânicas" e, neste caso, altamente nutritivo. Se o quiserem aproveitar devem colocar o tal tabuleiro ou caixa por baixo (sem buracos, claro), mesmo que fique numa varanda, para o recolher. A nossa mistura não largou quase líquido nenhum, por isso ainda não testei a eficiência do chorume. Não pode ser usado puro porque é muito forte, mas sim diluído na proporção de uma parte de chorume para dez de água. Usa-se como fertilizante.

Também podemos fazer chá de vermicomposto. Retira-se um bocado da mistura (sem minhocas...), coloca-se num pano fino, juntam-se as pontas e ata-se (a isto chama-se uma "boneca"). Mergulha-se num regador - ou balde - com água e deixa-se de molho durante nove dias. Após este tempo usa-se a água para regar as plantas. Tal como o chorume, é um fertilizante. O vermicomposto que fica no pano devolve-se à caixa.

E assim começou uma novo ritual nas nossas vidas!

Claro que quem não for adepto das manualidades pode comprar um vermicompostor. Mas não é a mesma coisa...

22 comentários:

  1. Obrigada Helena!
    Bom resto de semana.

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  2. Oh meu Deus... sabes que já li este post duas vezes. Acho que está muito bem explicado e é de louvar terem abraçado este desafio com tanto empenho porque, de facto, é um verdadeiro desafio! Parece dar imenso trabalho! Estou cheia de inveja da tua coragem e do teu empenho, mas acho que vou esperar mais algum tempo até me dedicar à vermicompostagem.
    Vai blogando sobre os resultados, tipo quando já tiveres composto, e- facto que me preocupa muito - como é que as tuas gatas reagem ao facto de haver organismos vivos em casa em que elas não podem tocar... é que a minha gata deitava-lhes logo a unha...
    Beijinhos e boa sorte para o desafio!

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  3. olá Monia!
    Na verdade é mais fácil do que - pelos vistos - parece... Depois de fazer a caixa e ter as minhocas é só alimentá-las.
    O meu composto está quase pronto e, é boa ideia, falarei sobre o 1º produto final.
    Em relação às gatas, não há problema. Como a caixa normalmente está fechada as gatas nem vêm as minhocas. Quando levanto a tampa para arejar, ainda tem a cama de tiras de jornal e mesmo que não tivesse, as minhocas fogem da luz, por isso estão sempre invisíveis. O máximo que fizeram foi deitarem-se em cima da caixa (...) e, uma vez (com a tampa levantada), puxarem uma tira de papel para brincarem!
    Obrigada pelo apoio!
    Beijinhos

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  4. Olá! Cuidado com as larvas daqueles mosquitinhos pequenitos ou da mosca da fruta. As moscas gostam de ir por ovos no vermicompostor, por isso sugiro que as aberturas sejam cobertas com uma rede mosquiteira que evita o acesso.

    Cumprimentos
    Ana

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  5. Obrigada Nokas, mais uma razão para usar a rede (já tinha chegado à conclusão - como digo no post - que também é boa para combater a saída de minhocas!)

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  6. Olá Ema,
    é a primeira vez que por cá ando e estou a gostar. Muito bem! Era tão bom que cada um de nós tivesse a preocupação de contribuir para o bem-estar do nosso planeta. Cá em casa reciclamos tudo o que é possível reciclar. Fazemos combustagem, mas como vivemos numa casa, o maridão enterra mais ou menos duas vezes por semana. Deixa de ser necessário deitar fora o lixo pois praticamente não temos lixo. Custa tão pouco fazer alguma coisa, e não é que me sinto uma heroína por contribuir para o bem-estar mundial. Obrigada pelas dicas.

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  7. Obrigada Lúcia, pela "companhia"!
    É verdade, a compostagem diminui tremendamente o lixo em nossas casas. E podemos ser todos heróis... sem dúvida!

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  8. Faço compostagem há uns anos,poucos, mas não me parece que tenha minhocas. O que vejo é uma surpreendente colecção de outros bichinhos, sempre muito atarefados , e que acabam por fazer um belo trabalho final, apesar de não dar a devida atenção, revolvendo e misturando os residuos mais secos aos húmidos; por isso não obtenho tanta "terra" como devia.Mas vou dedicar-me mais, porque iniciei uma pequena horta, e esta precisa de bom alimento.
    Gosto do teu blog, parabéns.

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  9. Cristina, obrigada pela atenção!
    Quando o compostor não está sobre terra, é que são necessárias as minhocas, precisamente porque os tais bichinhos não chegam aos compostor.
    Quanto ao revolver, há pouco tempo um "perito" disse-me que em Portugal não há grande necessidade de revolver o composto muitas vezes, devido ao nosso clima. A minha mãe nunca o faz, e o composto dela é óptimo.
    Boa semana!

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  10. ola Ema, muitos parabéns pelo Blog está magnifico este teu trabalho, eu também gostaria de começar a fazer vermicompostura, até já tenho a caixa, mas tenho um problema não sei onde arranjar as minhocas, será que me podias ajudar?

    tinha outra questão, dizes que usaste uma caixa de plástico no aqui, onde colocaste os furos da caixa para circulação de ar da compostura ?

    cumprimentos,
    NM

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  11. Olá Nuno, obrigada!
    As minhocas podem comprar-se (na minhocasa, por exemplo), mas são carotas... outra hipótese é fazer uma oficina, como eu fiz, e as minhocas são-nos oferecidas (podes contactar a quercus de braga para ver quando é a próxima).
    Eu gostava de poder oferecer-te algumas, mas devido aos meus buracos serem maiores do que o que deviam, estão sempre a escapar-me e nunca tenho muitas!
    Por isso faz buracos bem pequeninos. Muitos, mas bem pequeninos!!! As minhocas espremem-se e cabem num buraco da rede mosquiteira mais apertada.
    Como digo no post, fiz buracos na tampa e nas laterais para arejamento, e no fundo para escoamento.
    Espero ter ajudado.
    Boa sorte!
    Ema

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  12. Olá Ema, obrigado pela resposta,
    Quanto a minhocasa á uma loja brasileira, não acredito que enviem para Portugal, =\ quanto a oficina era uma ideia, mas em Braga fica um bocado (grande) fora das minhas rotas, pois resido no Algarve =)

    Vou tentar desenrascar-me noutro sitio, mas sinceramente nem sei onde, porque não conheço ninguém em portugal que faça isto a não ser agora tu. =)

    Obrigado na mesma e muito sucesso com a vermicompostagem ;)

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  13. De nada Nuno, mas enganei-me na referência...

    Em Portugal existe a Ecominhoca (e não a minhocasa) que vende minhocas:
    http://www.ecominhocas.pt/?/products/minhocas&gclid=CNm31bjNs6sCFYJO4QodwBrPeg

    Espero que, agora sim, seja útil este contacto.

    Bom fim-de-semana!

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  14. Oi, obrigado pela partilha. Recentemente também construi um vermicompostor de madeira e partilhei os planos aqui http://www.hortabiologica.com/2012/11/vermicompostor/.
    Também comprei as minhocas na ecominhocas.pt :)

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    1. Olá!

      Que compostor com tão bom aspecto! Tenho que dizer, pela minha experiência, e como é referido no teu post, que a rede tem uma malha muito larga. Mesmo com a mais fina que encontrei, as minhocas conseguem escapar. Estou para experimentar collants...

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  15. Olá Ema,

    Andava em pesquisas sobre compostagem e vermicompostagem e caí aqui :)
    Está tudo muito bem explicado e penso começar este mês já com a minha própria estação de vermicompostagem para utilizar na primavera.
    Mas tenho umas dúvidas. Não há cheiros? O produto final é bom?

    Obrigada e bj

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    1. Sim, é muito bom e só cheira a terra! Se não for o caso é porque não foi "bem feito".
      Boa compostagem!

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  16. Olá Ema pode mim ajudar?

    Comecei um processo de vermicompostagem a alguns meses acho que está dando certo. O problema e que surgiram uns bichinhos pequenininho que andam muito rápido no composto. Isso é normal? eles comem as minhocas? são muitos quando reviro o composto lá estão eles. O que fazer? Ateciosamente, solange

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  17. Boas onde arranjou a caixa de esferovite?

    Com os melhores cumprimentos

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    1. Nas farmácias têm muitas e normalmente oferecem-nas.

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